Libertinagem Cristã

“É errado criticar Deus”, “Os homossexuais estão querendo destruir a família”, “Fundamentalismo Gay”. Essas e tantas outras expressões são a base do discurso religioso. Repetidas em todo discurso, sem mudar uma única palavra ou se adaptar ao público, sempre a mesma pregação. Mas a questão é: quem disse que é errado exigir os próprios direitos? Ser cristão não é errado, e ser gay também não é. Um livro não diz quem é certo ou errado, muito menos um livro escrito muitos e muitos séculos atrás baseado na sociedade de uma época tão distante.

Alguns religiosos extremistas pregam a ideia de que “a bíblia é a lei das leis”. O que nos remete a uma questão interessante: Deve ou não a bíblia ser considerada “a lei das leis”, ou influenciar de forma direta a formulação, deferimento ou indeferimento de leis?

Levando em conta que as leis são baseadas nas necessidades da sociedade, na proteção das mesmas de leso ou dano, e também proteção do patrimônio social, cultural e de outros vários assuntos de importância da sociedade, seria possível aceitar uma influência cultural que é considerada ultrapassada em vários pontos?

O povo cristão se esqueceu — ou não foi avisado — que as leis são coisas dinâmicas e devem ser formuladas de modo a inibir práticas que gerem leso a maioria, e não beneficie apenas um grupo fechado que se julga detentor de um poder que a maioria supõe não possuir ou não sabe que tem, e deve também acompanhar as mudanças sociais, sem dar preferência a grupos específicos, porém visando a proteção e o bem de todos. Assim como os homossexuais se esqueceram que os direitos deles são os mesmos de todos os homens, e que grande parte das limitações que enfrentam são culturais. Os homossexuais vêm lutando há muito tempo por direitos que lhes deem proteção, o que é absolutamente aceitável e deve sim, ser apoiado. Ainda que algumas pessoas acreditem que deixaram de querer apenas efetivar proteções e direitos necessários na carta magna, e visem agora mudar a cultura, buscando uma aceitação popular que a sociedade não quer, e não está preparada para dar. Porém o respeito e a proteção eles vêm conquistando, e são muito merecidos. As leis passaram a aceita-los, e passaram a ter voz na câmara. Porém o que muita gente — homossexuais ou não — esquece é que eles também são humanos, e que todo humano ao nascer, automaticamente já é amparado pelos Direitos Humanos.

Pastor Amor, Pastor Alegre e muitos outros juntos, incitam uma multidão quase imensurável e que transcende as crenças que eles pregam a odiarem pessoas. Pessoas de carne e osso. E isso na concepção de algumas pessoas caracterizaria uma ofensa aos Direitos Humanos. Mas quando levamos em conta que essas pessoas, que são como qualquer outra pessoa, são homossexuais, o negócio muda de figura. Os direitos que passam a valer são os previstos em lei, e os direitos humanos quase não são mencionados. Exceto os que o Presidente da Secretaria de Direitos Humanos julga correto.

E então, Pastor Amor e Pastor Feliz, qual o próximo passo da sua armada? Criar a ideia de que o aborto é errado? Sobre qual pretexto, “que Deus escreve certo por linhas tortas”? Concordo que o aborto é desumano. A luta pela vida começa no próprio ato sexual, quando o esperma corre para o óvulo. Nesse passo não ouso discordar muito de vocês, apenas repudiar o extremismo.

Como um amante da liberdade e do livre arbítrio, sou a favor do direito de escolha em certas circunstâncias, como gravidez de risco, estupro, e casos hediondos. Porém acompanhado de uma instrução. Acredito que toda mãe que quer abortar deve, obrigatoriamente, passar por todo um processo antes de consumar o ato. O que iria de palestras coletivas, para estimular a interação entre pessoas que têm o mesmo objetivo, a um acompanhamento médico e psicológico. E só após isso, e com o consentimento dos profissionais que a acompanharam nas diferentes etapas, ela poderia abortar.

Mas é claro que, Deus repudia os homossexuais, e o aborto. Então como umas poucas vozes podem lutar contra um mar de cristãos tão devotados a Deus e a seus líderes quanto Espartanos à guerra?