Vaqueiros de cavalos flex 2.0

Flanelinhas. Sim, os flanelinhas são vaqueiros do mundo moderno, que andam por aí, e cuidam da boiada alheia. As vezes até dão um banho, pra tirar o pó e refrescar o coro de ferro colorido do animal.

As garrafas de água no isopor, e junto dele os outros peões. Todos vaqueiros, todos cuidando dos cavalos dos outros, esperando eles apearem e irem para os seus afazeres. E no cuidado, quando voltam pra pegar o animal, deixam uma moeda. Quase como um menino da porteira, só falta pedir pra tocar o berrante – ou fazer roncar o motor quando o carro é de luxo, ou melhor, um baio de raça.

Todos os dias sob o sol, os vaqueiros selam os cavalos, ou então montam nas bicicletas e vão para as respectivas fazendas – quando não vão a pé, por falta de condições. Trabalham, comem o almoço que é dado pelo patrão, ou então, levam a marmita, e comem sem reclamação. O suor no rosto durante o almoço, é secado com as costas das mãos ou nas mangas da camisa. Se sentam na sombra quando podem, andam de um lado para o outro, fazem os afazeres do campo, e cuidam de tudo para o melhor cuidado possível ao rebanho.

Já os flanelinhas acordam cedo pra enfrentar os ônibus cheios, e aguardar a chegada do comboio antes até dos raios de sol. Enquanto exercem o trabalho de pastoreio para ganhar a vida, “à vida” passa na calçada da frente, centenas de pessoas todos os dias, sem sequer saber ou pensar que aquele rapaz naquele estacionamento, já marcado pelo sol e o cansaço, tem uma família, filhos, ou uma filha. Talvez até uma filha que estuda direito em uma das melhores instituições de educação superior da cidade. Se soubessem, o que pensariam a respeito da possível colega de classes de seus filhos?

Os patrões chegam cada um com pelo menos 100 cavalos, mas de forma inusitada, todos cabem dentro da carruagem de metal, pintada da forma que melhor agrada os donos. E o mais interessante é que nenhum cavalo senta no colo do outro, nem no do senhorzinho. Tudo funciona na perfeita ordem, a ponto de caberem em uma vaga só. Tem uns que colocam entre uma e outra e ocupam duas, vai entender esses cavalos, não é mesmo? Tem também quem os adestre tão bem que os deixam soltos no meio das fileiras, e é só dar uma empurradinha que o baio sai do caminho, mansinho, sem fazer barulho, nem sequer ameaçar um coice, pode confiar.

Os vaqueiros, lá pelas 15 da tarde já encontram sossego embaixo de alguma árvore próxima, enquanto conversam de forma acalorada e sorridente sobre uma série de assuntos. Um fazendo piada com a vida do outro, enquanto fazem críticas de tudo ao redor: da madame que desceu do carro numa pompa maior que o salto de 20 centímetros de altura e quase torce o pé ao errar a passada, até o figurão que chega num carrão e sempre faz uma piadinha, como se fosse amigão do flanelinha.

Os cavalos estão alimentados, cuidados, limpos. Os donos podem pegá-los seguros e – quase sempre – sem nenhum arranhão ao final do dia. Nenhum pulou a cerca e fugiu, ou como é de praxe, foi roubado. O vaqueiro cuida bem dos cavalos.