Crônica necessária, porque o limite do cartão de crédito estourou

Há quem grite por aí que o consumismo move a economia, faz girar capital, e relembre os idos afrancesados, em que o giro da economia alimentava a economia. Ah, como giram essas ideias, giram tanto a ponto do consumismo aceitar sem preconceito ou ranço o “-ismo” da separação.

E lá vem, encabeçado pelo “con” que agrega, sem se deixar separar. É claro que entre um e outro vem o sumo, quase o conteúdo da fruta etimológica que é a pluralidade do consumo. O desprezo, quase um sujeito elíptico da questão, consome desenfreado e lembra o extremismo dos ismos. Não que o consumo equilibrado esteja em desuso, pelo contrário: ele não está – o que desgasta o léxico e a intelecção dos que tentam aprofundar a discussão e o entendimento.

Sabe o colocar a comida no prato e jogar metade no lixo? Tomar um copo cheio d’água enchê-lo de novo, tomar metade e jogar o resto fora? Isso é um pedaço de consumismo. Consumo desenfreado. Desmedido. Consumido. Mas jogar fora não é o fato do debate, é uma das últimas possibilidades do objeto por ser consumido. Usá-lo ou descartá-lo.

Consumismo. De consumir; mais “-ismo”. Tanta etimologia, e que se assemelha ao escritor que mantém a métrica e as palavras, mas troca a ordem pra alterar o sentido. Como se da mão, o carro guinasse pra contra mão, sem trocar a marcha, mudar de cor ou modelo. É o carro “A”, que ruma sempre em frente, mesmo após guinar 180º sem alterar em nada a potência do deslocamento, movendo apenas o volante – o controle. A menos que se use o viés consumista, que o Carro “A” segue em frente e o “B” guina contraposto ao local de repouso do “A”.

Seguindo no viés consumista, é um novo carro por ano, uma nova roupinha pra ir pro trabalho quando o guarda-roupa já não cabe nem uma camisetinha no estilo regata, linda, que cai muito bem nesse verão tropical brasileiro e só custa 39,90 naquela lojinha baratinha do lado daquele café que você sempre vai depois de sair do cinema.

Segue o consumir, desnecessário, desenfreado. Como se o instinto humano deixasse de buscar o necessário, a caça, e as frutas, para garimpar roupas de qualidade, itens necessários, ou de ostentação. Bons preços ou não. Não se sabe, e não se julga. Não a compra. Se julga o consumo e o que provoca.

E por provocar, provoca a geral felicidade da nação (ou classe) a qual é permitido consumir sem que a saúde da dispensa seja alterada. E o contragosto dos oprimidos. Mas fora isso, como fica o produto, as produções e a matéria prima? Fora tudo, não se critica nada?

Consumismo? Ora é consumismo! Aquela coisa que a gente faz no final do mês com o cartão de crédito e sofre por dois meses pra pagar, e mesmo sofrendo com o uso que desgasta a saúde fundamental das finanças pessoais; continuamos a consumar a dívida. A regatinha branca na promoção, aquela torradeira prateada na Black Friday (quando a sua branquinha funciona que é uma beleza!), o desejo de ter esses bens, e a felicidade na hora da compra. Consumismo!

Serotonina e adrenalina elevadas no sangue, que flui em um ritmo de difícil definição, correm em elevadas produções, aumentando a ansiedade, e o prazer da compra, de ver o “Transação Aprovado” na maquinha.

Que se consome, consome. Se consumismo, talvez. Quando compra, aceitam. Consumismo, tão subjetivo no entendimento, se perde em uma volatilidade de julgamento e interpretação de fato e caso. Se bom ou mau, há quem discuta.