Revolução do Vinagre

Tropa de choque, cavalaria, bombas de gás. A própria polícia militar que indigna toda uma população não pode nos fazer gritar tão alto quanto uma bola de futebol, ou o suficiente para igualar os gritos causados por um embalo festivo, o batuque, e o choro do cavaco. Os gritos festivos gritados por toda uma população que deveria gritar por mudanças ultrapassam o real necessidade de uma população. O cavaco vai chorar mais alto que as exigências do povo até quando? Até quando vamos chorar em vão por justiça?

O jogo Brasil contra Japão teve como placar final 3 x 0. Parabéns aos jogadores, à nossa excelentíssima presidenta pelo decoro enquanto recebia vaias desnecessárias no estádio, de pessoas que chamaram os manifestantes de vagabundos. Mas um parabéns especial aos deputados e senadores que atrasaram a obra propositalmente para conseguir facilitar o caixa 2. Gostaria de parabenizar, por último, mas não menos importante, o povo. Pela passividade e por aceitarem a indução a uma cegueira que poderia ser facilmente desfeita por um pinguinho de vontade de querer realmente se informar.

Já começou. Está em todos os lugares. Está na internet, TV, rádio, e está nas ruas. Está acontecendo a mudança que o país inteiro sempre quis, que todo brasileiro sempre disse que deveria acontecer. Mas por que vocês reclamam e repudiam tanto? É trauma da ditadura, medo de ser preso? Hoje em dia podemos lutar e falar nossos objetivos em voz alta para que todos ouçam. Primeiro, nossos objetivos são louváveis, não queremos instaurar uma ditadura, queremos forçar o poder vigente a mudar, a dar ao povo o que lhe é direito e pode ser resumido em uma palavra: Dignidade. Segundo, liberdade de expressão. Podemos falar de política, religião e futebol abertamente, então alguém por favor me diga, por qual motivo não podemos falar das nossas lutas por direitos básicos que nos são negados? É simples, podemos e devemos. E mais, se eles não nos são dados como deveriam ser, então lutemos pra ter o que nos é direito.

No Distrito Federal, a Revolução do Vinagre começou de forma pouco agradável. A polícia se mostrou contra a manifestação já na rodoviária do plano piloto, ponto de encontro dos manifestantes antes de marcharem para o estádio. Mesmo com as ações policiais, a manifestação não parou. Marcharam até o estádio onde foram agredidos. O batalhão de choque, polícia militar, e a cavalaria marcaram presença com seus eternos brinquedos: Cassetetes, bombas de gás, bombas de efeito moral, spray de pimenta. Os manifestantes estavam lutando por direitos em meio a repressão, enquanto a polícia reprimia de forma violenta a liberdade que nos é direito, o movimento que também os beneficia.

E então, o jogo foi bom. Ganhamos por 3 x 0, nossos compatriotas ricos puderam ver ao vivo, enquanto os de classe social inferior assistiam a tudo nos telões colocados na Esplanada. O povo se agitou pela vitória, mas se deixou calar no que diz respeito a clamar por direitos e dignidade. Os batuques e o choro do cavaco encobriram os gritos de revolta. Os gritos que clamavam por direitos e por justiça social.

Quem assistiu ao jogo nos telões alocados na Esplanada não foram os senhores da classe “A”, visitantes japoneses, ou os manifestantes, que estiveram momentos antes nas imediações do Novo Estádio sendo chamados de vagabundos por quem estava na fila. Quem estava la era o povo. A grande maioria. A expectativa era de que houvessem entre 60 e 70 mil pessoas assistindo aos shows, sendo ludibriados pelo choro do cavaco e o batuque. Mas essa realidade apenas nos mostra algo que já sabíamos: Dê pão e circo e o brasileiro se cala. E o brasileiro se calou, exceto por três momentos específicos, que foram os momentos dos 3 gols da seleção. Mas o que realmente intriga nesse paradoxo é que após o show, os palhaços são aplaudidos, e na Esplanada ocorreu o contrário, os palhaços aplaudiram.

E nessa luta o povo é ludibriado pela música, e pelo “privilégio” de assistir ao jogo nos telões. Onde estão os ingressos com preços acessíveis? Eles não estão em lugar nenhum, até mesmo porque, para que os parlamentares e autoridades importantes em alguma esfera do poder recebam ingressos de graça, alguém deve pagar a conta. Mas essa conta não fica por conta do povo. E é simples, dessa vez quem paga são as pessoas que compraram ingressos pro jogo, e como sabemos o povo não tem dinheiro pra isso. Mas o povo tem sim, dever de lutar por preços acessíveis. A copa das confederações está acontecendo, mas e a Copa do Mundo, as Olimpíadas? Os preços serão tão altos assim, ou serão muito superiores? Eu espero não precisar saber, espero que o povo lute, e consiga resolver o problema enquanto ainda não é algo gigantesco ou irreversível.

Até quando o pão e o circo serão suficientes? Serão suficientes até que o brasileiro tenha uma educação de qualidade, e capacidade de refletir sobre os próprios direitos. Mas como um povo pouco informado, ou informado de forma a alienar e não a nutrir a necessidade de informação, pode conseguir sair do circo, negar o pão e lutar pelo que lhe é devido? São perguntas sem respostas. Mas uma coisa é certa, se tudo der certo, não precisaremos saber a resposta, pois nossos Heróis que lutam munidos de Vinagre, coragem e desejo de ver nossa população ser dignificada irá nos mostrar. Tenhamos fé, coragem e força para lutar por nós, e que o nós sejamos todos, não apenas alguns.

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